Dia das mães chegando e mais uma vez
procura-se o que falar sobre elas. Fica difícil falar qualquer coisa que
já não tenha sido dita. Mas, que importa? As palavras podem ser
repetidas. E há palavras que devem ser repetidas, para que nunca se
esqueça daquilo a que elas se referem. “Mãe” é uma dessas palavras. Que
nos repitamos, então.
Penso que cada vez mais ser mãe se torna uma tarefa muito especial. Porque cada vez mais olha-se a figura materna como o que ela realmente é: gente.
Ainda encontramos aquele endeusamento das mães, mas a “sagrada”
mãezinha, que bate, controla, que diz “faça o que eu digo mas não faça o
que eu faço”, é uma figura cada vez mais rara. Tem quem se lamente que
os filhos respeitavam mais suas mães no passado. Mas não é verdade. Os filhos temiam-nas. A hipocrisia talvez fosse muito maior.
Hoje, porém, as mães se renovaram. Elas
estão mais próximas dos filhos, não como tutoras inquestionáveis, mas
como orientadoras amorosas, sem se escorarem confortavelmente no título
de mãe. Progressivamente as mães, como os pais, sentem-se forçados a
viver aquilo que ensinam. Porque as crianças de hoje são questionadoras,
elas observam, desafiam, ensinam também. E isso é bom.
Ser mãe, hoje em dia, é um convite ao
crescimento. É um caminho de autoconhecimento, uma vez que a mãe precisa
conhecer a si mesma para melhor educar seu filho. As mães, porque os
filhos as solicitam através de suas posturas, procuram ser mais cientes
do que fazem, das próprias motivações. Mais do que nunca as mães buscam
caminhos para serem “boas” mães. E já faz algum tempo que ser uma “boa” mãe requer mais autoconhecimento e menos abuso de poder.
Aquela imagem de mãe com uma barriga
grande não é mais tão representativa das mães atuais. Mãe é aquela que
está do lado, durante o desenvolvimento do filho, e que nem sempre o
gerou. Aliás, mãe não gera filho. O filho, como ela própria, se faz e
refaz vivendo. Então, oferecer um óvulo e uma barriga é apenas um
pequeno e importante passo, mas não é o que constitui a maternidade.
Maternidade é doação, é coração, é amor. É
algo orgânico, que acontece naturalmente, e que não cabe em definições.
Uma imagem verdadeiramente representativa da mãe é uma mão segurando
outra. Suponho que se Michelangelo fosse convidado a pintar “a criação
do filho”, ele faria algo parecido com sua famosa “A Criação de Adão”.
Só que ao invés daquele Criador de barbas brancas com a ponta do dedo
tocando o dedo da criatura, teríamos uma mão feminina a envolver a mão
de Adão, sustentando-o, provendo-o, amando-o. Mãe é a faceta feminina de Deus. Feminino é o arquétipo da doação, da provisão e sustentação. Tudo isso que constitui a maternidade.
Ser mãe não é carregar um filho, mas
caminhar com ele, na plenitude de um amor inexplicável. Aquele amor que
permanece apesar de todas as diferenças, que torna a pessoa capaz de dar
a própria vida pelo ser amado. Isso é que faz de alguém digno de ser
chamado mãe. E para quem se sente mãe, porque ama assim, é que
repetimos, todos os dias: FELIZ DIA DAS MÃES!